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Refúgio: Uma estratégia essencial para o manejo de resistência de insetos

A biotecnologia é reconhecidamente uma ferramenta valiosa no combate de pragas agronômicas, sejam elas plantas daninhas ou insetos. Aumento na produtividade, conservação da biodiversidade, redução das emissões de CO2 e outras melhorias para o meio ambiente, assim como o incremento no rendimento de milhões de pequenos agricultores, são apenas alguns dos muitos benefícios das culturas geneticamente modificadas (GM) derivadas dessa tecnologia. Apesar de estarem no mercado há mais de duas décadas, culturas GM são e continuarão a ser um dos atores principais da Agricultura Moderna.

Quando se trata do controle de insetos praga, um aspecto que merece máxima atenção é o manejo de resistência de insetos (MRI) às culturas Bt, que são as plantas GM que produzem proteínas inseticidas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt). Como já explicamos em um outro artigo aqui do Agricultura Moderna , a resistência é uma característica que é fruto da variabilidade genética natural que a população de insetos apresenta, como ocorre com qualquer conjunto de organismos vivos de uma mesma espécie. Portanto, certos indivíduos da população são suscetíveis e outros são resistentes às proteínas Bt, de tal forma que os primeiros são eliminados e os últimos passam a persistir e aumentar seu número, agravando os problemas advindos da sua presença na cultura.

Muitas estratégias diferentes já foram elaboradas para contornar a evolução da resistência, mas uma delas tem se mostrado uma das mais eficientes: a adoção de áreas de refúgio.

O refúgio é uma área da lavoura na qual se cultiva plantas que não sejam Bt, ou seja, que não produzam as proteínas inseticidas derivadas do Bt. Isso significa que esta área de refúgio é onde os insetos suscetíveis conseguem se “refugiar” e sobreviver, dado que não sofrem as ações dessas proteínas inseticidas. Mas mais do que isso, ela é uma região onde os insetos suscetíveis podem se reproduzir e acasalar com insetos resistentes, o que leva a uma “mistura” dos genes de insetos suscetíveis e insetos resistentes. Esse é um dos aspectos mais importantes para o refúgio, pois os insetos descendentes desses cruzamentos são, em muitos casos, também suscetíveis. Assim, o número de insetos suscetíveis é mantido por mais tempo, o que retarda a progressão da resistência e faz com que a tecnologia Bt possa controlar os insetos praga por mais tempo.

De fato, a efetividade do refúgio como forma de se prolongar a ação das culturas Bt tem sido comprovada de diferentes maneiras e em iniciativas que vão de modelagens computacionais a experimentos no campo. Um dos resultados desses estudos é a recomendação feita por grupos de especialistas com relação à proporção da área de cultivo que deve ser plantada com o refúgio: em média 10% no caso da cultura do milho e 20% para soja e algodão. Além disso, é essencial que a distância máxima entre a área de refúgio e de culturas Bt seja de 800 metros, uma vez que distâncias maiores reduzirão a taxa de acasalamento entre os insetos suscetíveis e os resistentes. Por fim, as culturas Bt e não Bt devem ser plantadas ao mesmo tempo e na mesma propriedade, bem como ter tempos de crescimento próximos.

A evolução da resistência é um problema real e cujos prejuízos podem afetar extensas regiões. O refúgio vai de encontro com essa evolução e, por esse motivo, é um forte aliado do agricultor que tem visão de longo prazo e entende que tão importante quanto reconhecer os benefícios da biotecnologia são as ações que garantem sua máxima permanência no mercado.

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