Um tomate para tratar hipertensão
Quando pensamos em agricultura, geralmente imaginamos uma vasta plantação, uma grande quantidade de grãos e os produtos deles derivados em uma mesa farta.
Mas a agricultura tem o potencial para nos beneficiar de formas que vão além de um belo prato de comida. Com a constante integração dos diferentes conhecimentos, estamos vivendo um momento de descobertas cada vez mais impactantes em áreas como preservação de energia, sustentabilidade e saúde humana, sendo esta última um dos grandes focos de pesquisas ao redor do mundo.
Nesse sentido, um dos principais exemplos é o arroz dourado. Esse produto foi geneticamente modificado (GM) para que passasse a conter níveis importantes de provitamina A, uma substância que, quando consumida, pode ajudar na prevenção de um tipo de cegueira que acomete pessoas com deficiência em vitamina A. Mas como a ciência está em constante evolução, recentemente tivemos indícios de que mais um passo foi dado no âmbito da agricultura em direção à melhoria do quadro de pacientes acometidos por uma outra doença de grande importância.
Um grupo de pesquisadores da Universidad Autonoma de Sinaloa, no México, reportou o desenvolvimento de um tomate que pode contribuir para o tratamento da hipertensão, uma condição que afeta mais de 20% da população mundial. Para isso, o grupo fez uma revisão da literatura científica e encontrou algumas proteínas que apresentavam a propriedade de diminuir o quadro hipertenso. Uma delas, particularmente, foi capaz de melhorar a hipertensão em ratos, um modelo animal comumente utilizado em testes de medicamentos.
Como a produção dessa proteína para geração de um medicamento teria um alto custo, a ideia foi conceber um modelo que poderia baratear o acesso da população a ela. Dessa forma, o tomate foi escolhido por ser um alimento popular, presente em muitas culinárias ao redor do mundo. Assim, os pesquisadores modificaram geneticamente o fruto, tornando-o capaz de produzir a proteína anti-hipertensiva. Os efeitos apresentados nos animais que ingeriram a proteína foram semelhantes àqueles obtidos com a administração de captopril, um medicamento comumente utilizado por pacientes que têm a doença. Agora, o projeto testará os efeitos dessa nova abordagem em seres humanos, tendo como objetivo entender se o consumo do tomate GM realmente gera efeitos benéficos aos portadores da doença.
Por quê tratar Hipertensão?
O funcionamento adequado do nosso corpo é totalmente dependente da circulação do sangue por todo os órgãos e tecidos. Isso porque o sangue é o responsável por diversas funções vitais para nós, como fornecer oxigênio e nutrientes necessários para que todas as nossas células funcionem corretamente, e remover os produtos da atividade celular, como gás carbônico (CO2) e outras substâncias. Para isso, o coração trabalha de forma ininterrupta, batendo mais de 100.000 vezes ao dia para nos manter vivos.
Uma natural consequência da atividade do coração é a pressão que o sangue exerce sobre os vasos sanguíneos, criada pela força que o sangue faz sobre as paredes desses vasos. Uma pressão muito elevada é preocupante pois ela aumenta a chance de lesão no coração e nos vasos de órgãos importantes como o cérebro e os rins. Quando não controlada, a hipertensão pode causar infarto, dilatação do coração e até falência total do órgão. Além disso, a prevenção de hipertensão é a melhor forma de evitar doenças cardíacas e AVC (acidente vascular cerebral). Por essas e outras razões é importante que façamos um acompanhamento da nossa pressão sanguínea, e optemos por um estilo de vida que inclua atividade física, diminua ou elimine o consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo zero, uma alimentação saudável e práticas que aliviem ou eliminem o estresse.
Graças à biotecnologia, é possível que o tomate GM descrito acima esteja no prato de muitas pessoas ao redor do mundo, representando um passo a mais da humanidade na luta contra uma importante doença. Trabalhos elaborados como esse geram a oportunidade para que muitas pessoas ao redor do mundo vivam com mais qualidade e por mais tempo, e ainda mostram o valor que projetos guiados por pensamentos integrativos e inovadores têm para nossa sociedade.
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