Tecnologia agrícola: a importância e principais inovações
A matéria comenta sobre a modernização e a utilização de novas tecnologias na agricultura e os diversos avanços que vêm trazendo.
Diversidade. Uma palavra tão importante para agricultura e em tantos sentidos. Mas onde estaria a razão para isso?
Às vezes nos esquecemos que a biologia está na base da agricultura. Claro, afinal estamos lidando com organismos vivos – e não só as plantas. Insetos benéficos, insetos praga, vírus, nematoides, aves, o ser humano. Todos são complexos sistemas orgânicos que interagem com o meio, respondem a estímulos, adaptam-se e compõem a BIOdiversidade do nosso planeta. Isso vem acontecendo há muito tempo. Bilhões de anos, na verdade, quando a vida surgiu na Terra.
Mas em algum momento dessa história o homem passou a domesticar plantas para seu benefício e, com isso, vieram junto as plantas daninhas, que podem ser definidas como aquelas plantas que crescem em um local onde não são desejadas. Mas, como seres capazes de adaptação, passamos a desenvolver formas de combatê-las, inicialmente de forma mais rudimentar e mais recentemente confiando em abordagens mais avançadas, como é o caso das formulações de herbicidas.
Na década de 1940 ainda havia um número muito restrito de formulações, quando se utilizava praticamente apenas um tipo de herbicida contra plantas de folhas largas, ou herbicidas não seletivos - como arsenato de chumbo e alguns sais. A partir de 1970, uma quantidade crescente de herbicidas passou a ser desenvolvida, o que culminou no grande número de formulações hoje existentes no mercado. Mas por que a agricultura, mesmo com avanços e considerável modernização, ainda precisa de mais de mais de uma formulação de herbicida?
Mais uma vez voltamos às bases biológicas. Seres vivos, incluindo plantas daninhas, possuem uma variabilidade genética natural dentro de uma mesma população. Isso significa que, se tomarmos uma mesma população de indivíduos que são, a princípio, suscetíveis a um herbicida, haverá um verdadeiro mosaico genético, análogo ao que acontece na espécie humana. Apesar de sermos todos parecidos, existem pessoas altas, baixas, de olhos azuis ou castanhos, com cabelo crespo ou liso – uma diversidade de características biológicas advindas de vários genes diferentes que se combinam.
Devido ao constante aparecimento de novas variações genéticas, essa população suscetível pode, quando exposta a uma formulação de herbicida com determinado modo de ação*, passar a exibir indivíduos que não mais sofrem com os efeitos das doses recomendadas e que antes os afetavam. Assim, o uso de um herbicida que apresenta um único modo de ação acaba resultando em um processo de seleção de algumas plantas daninhas que apresentam uma pré-adaptação a esse modo de ação utilizado - ou seja, indivíduos com algum grau de resistência.
Esses indivíduos podem inicialmente ser raros, mas, como sobrevivem, começam a passar a característica de resistência para as gerações seguintes. As aplicações repetidas de herbicidas com um mesmo modo de ação intensificam, assim, o processo de seleção dos indivíduos resistentes de tal forma que a proporção deles aumenta, enquanto que aqueles suscetíveis ao modo de ação continuam sendo eliminados. A permanência da pressão de seleção**, ou seja, do uso daquele herbicida específico, reforça a presença dos indivíduos resistentes sobre os suscetíveis até chegar ao ponto em que ele não é mais eficiente.
Assim sendo, temos encontrado no uso de mais de um herbicida uma boa parte da solução, já que isso significa combater um problema com mais de uma ferramenta. É uma questão de probabilidade, dado que a chance de uma planta daninha tornar-se resistente a dois ou mais herbicidas cai consideravelmente na comparação com o uso de um único modo de ação. Ou seja, a lógica por trás das melhores estratégias de manejo de plantas daninhas pode também ser resumida naquela mesma palavra com a qual começamos: diversidade!
*Modo de ação: processo ou evento-chave, começando com a interação de um agente com a célula de um organismo através de alterações funcionais ou anatômicas. Observação: modo de ação e mecanismo de ação são coisas diferentes! Enquanto modo de ação limita-se a acontecimentos no nível celular, o mecanismo de ação trata do processo ou evento-chave no nível molecular detalhado.
**Pressão de seleção: agente que resulta em diferentes taxas de mortalidade ou fertilidade, tendendo a causar mudanças na genética de uma população.
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