Microrganismos: grandes aliados da agricultura
Plantas dependem de diversos fatores para crescer de forma saudável.
Alguns deles são incontroláveis, como é o caso do clima. Contudo, muitos podem ser orquestrados pelo homem para o benefício da agricultura, como é o caso de um bom germoplasma ou da composição dos microrganismos presentes no solo onde as plantas de desenvolvem. Mais recentemente, especialistas têm colocado mais atenção e conseguido controlar melhor este último elemento que antes passava praticamente desapercebido apesar de sua constante presença.
Seres vivos microscópicos habitam virtualmente todos os ambientes do nosso planeta e coexistem intensamente com plantas e animais. Bactérias, vírus e fungos são alguns exemplos de microrganismos que fazem parte da história da humanidade há milênios, mesmo quando nem fazíamos ideia de sua existência. A produção de pão, vinho, cerveja e queijo é dependente desses seres, o que significa que eles vêm contribuindo para a biotecnologia desde sua origem. A digestão dos alimentos que comemos e a manutenção do sistema de defesa do nosso corpo também contam com a presença de trilhões dessas pequenas unidades de vida. E no caso de plantas isso não é diferente.
Plantas e microrganismos vêm interagindo e evoluindo conjuntamente há bilhões de anos. Muitas das espécies de bactérias que colaboram com o homem ajudam plantas a melhorar o crescimento de raízes, digerir nutrientes e protegê-las contra doenças, alagamentos e seca. De fato, cada centímetro quadrado de solo possui uma grande quantidade de minúsculos organismos que podem beneficiar os vegetais. E eles não estão apenas ao redor das plantas, mas em contato direto com raízes, folhas e até em órgãos e tecidos internos.
Na agricultura, a descoberta, o desenvolvimento e a produção de microrganismos tem sido um processo cada vez mais valioso e que vem permitindo inovações para o setor. De forma geral, as pesquisas inovadoras que estão sendo feitas nesta área podem ser sucintamente divididas em três principais etapas:
- Isolamento e identificação: amostras de solo são obtidas a partir de diferentes ambientes onde milhões de microrganismos podem ser encontrados em uma única colher de chá. Pesquisadores podem isolar os organismos que apresentam interações específicas com as plantas e, em seguida, identificam o gênero, a espécie e as características genéticas de cada linhagem encontrada.
- Competição: os microrganismos identificados na primeira etapa são testados para verificar se são capazes de competir adequadamente em um ambiente natural. Esse tipo de teste permite o enriquecimento das amostras com microrganismos que não só são eficientes em colonizar raízes de plantas de interesse agronômico – como soja e milho – mas também em crescer em solos de regiões tipicamente agrícolas. Os microrganismos que são bem-sucedidos são então produzidos em maior escala por fermentação, concentrados e aplicados sobre as sementes das culturas de interesse. Buscando garantir sua segurança, esses produtos devem passar por diversos testes, como análises moleculares detalhadas, e ter a aprovação de um painel de especialistas da área da saúde antes da comercialização.
- Testes em campo: o objetivo desta etapa é entender se as linhagens de microrganismos selecionadas têm efeitos benéficos sobre vigor, resistência a insetos e doenças, e saúde da planta de forma geral, visando o aumento da produtividade. Além disso, o sequenciamento genético dessas linhagens permite que pesquisadores entendam as diferenças moleculares entre aquelas que são bem-sucedidas ou não, o que traz informações importantes para futuras pesquisas.
Um benefício adicional do uso de microrganismos na agricultura reside no fato deles poderem complementar ou até substituir outros defensivos agrícolas, além de seu uso ser considerado seguro na comparação com outras classes de produtos agrícolas.
Com o maior controle de fatores macro e micro, estamos chegando a práticas agrícolas mais inteligentes. Ao ajudar plantas a utilizar nutrientes de melhor forma e garantir uma melhor produtividade, microrganismos têm contribuído para que o agricultor gere alimentos ainda mais acessíveis de forma segura e sustentável.
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