Tolerância à seca: alternativa da biotecnologia para preservação da água
A biotecnologia é uma área da ciência aplicada que traz inúmeros benefícios ao homem.
A biotecnologia é uma área da ciência aplicada que traz inúmeros benefícios ao homem. De medicamentos inovadores a plantas com produtividade aumentada, essa ferramenta nos garante produtos e serviços cada vez mais especializados e valiosos para vencermos os desafios do mundo atual.
Um desses desafios é a crescente demanda da humanidade por diferentes recursos e, em especial na agricultura, por água. A água é uma substância essencial para o homem e os demais seres vivos. Contudo, apenas 0,5% de toda a água do mundo está disponível para todas as nossas atividades. Sozinha, a agricultura chega a consumir mais de 75% da água doce disponível e, com isso, diversas iniciativas biotecnológicas buscam uma forma de reduzir a grande vazão destinada aos plantios de todo o mundo.
Já é de nosso conhecimento que produtores teriam uma demanda hídrica muito maior sem a biotecnologia. Graças ao uso de variedades geneticamente modificadas (GMs) de soja, algodão e milho tolerantes a herbicidas, estima-se que o Brasil tenha deixado de utilizar 16 bilhões de litros de água só no período entre 1996 e 2010 – o equivalente ao abastecimento hídrico para 370.000 pessoas. Mas esse exemplo representa uma forma indireta através da qual a modificação genética pode reduzir o consumo de água. Hoje já contamos com plantas que apresentam características mais estreitamente relacionadas com a capacidade de tolerar o baixo aporte hídrico.
Um bom exemplo é o projeto de pesquisa internacional denominado RIPE – Realizing Increased Photosynthetic Efficiency. Através de suas linhas de pesquisa, ele busca compreender maneiras de melhorar a eficiência da fotossíntese de plantas para aumentar a produtividade de culturas sustentavelmente. Uma das recentes conquistas do projeto foi o desenvolvimento de plantas GMs cuja eficiência de uso da água é 25% maior que o normal. E isso foi feito através da alteração de um único gene dentre os milhares que controlam o funcionamento dos vegetais. Apesar dos experimentos terem sido feitos em tabaco, uma planta-modelo para muitos experimentos, os autores afirmam que a modificação pode muito bem melhorar o aproveitamento de água em muitas das principais culturas de importância agrícola.
No Brasil, diferentes grupos de pesquisa também têm se dedicado a explorar essa linha. O IAC – Instituto Agronômico de Campinas, tem buscado gerar variedades tolerantes à carência de água para diferentes culturas, como cana-de-açúcar e feijão. No caso deste último, os pesquisadores propuseram-se a desenvolver plantas capazes de suportar um volume de água até 30% menor que o usual. Uma das variedades gerada apresentou um ciclo de crescimento mais rápido (75 dias, ao invés dos usuais 95), além de raízes que se desenvolveram de forma acelerada. Já a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em parceria com a UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, conseguiu resultados animadores explorando um gene da planta do café que também se mostrou relevante para a economia de água. A próxima etapa do projeto envolverá o teste em plantas de interesse agronômico como soja, milho, trigo, cana-de-açúcar, arroz e algodão.
E não podemos deixar de citar novamente o projeto WEMA - Water Efficient Maze for Africa. Essa colaboração público-privada gerou uma variedade de milho através de cruzamento convencional e biotecnologia capaz de suportar uma menor irrigação, além de ser resistente ao ataque de insetos. Com esse milho, pequenos produtores da África subsaariana poderão conseguir produzir o grão mesmo nas precárias condições hídricas do continente, sem a necessidade de pagar por royalties.
À medida que progredimos nos avanços da biotecnologia fica claro como existem muitas formas dela contribuir para a agricultura e muitas outras áreas. A preservação da água é apenas uma das aplicações. Da mesma forma, outras ferramentas e práticas podem ajudar em um uso mais sustentável desse precioso recurso. O importante é pensarmos em como agregar essas diferentes estratégias, balanceando as demandas do homem e os recursos necessários para a produção agrícola.
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