Diversas características do solo são de extrema importância para a agricultura. Imagine o solo de uma região desértica e o solo de uma floresta da mata atlântica. A baixa produtividade do primeiro e a alta produtividade do segundo se dão, em muito, graças às características que cada um desses solos possui.
Na busca por uma melhor produtividade, é comum que certos parâmetros do solo sejam corrigidos quando existe a necessidade, uma decisão que deve ser tomada de forma embasada para que os insumos envolvidos sejam empregados eficientemente. Assim sendo, informações sobre o solo que são precisas e rapidamente disponibilizadas passam a ter muito valor para o agricultor. Foi pensando nessa demanda que um grupo de pesquisadores brasileiros desenvolveu o AGLIBS 1.0, um equipamento dotado de uma tecnologia de última geração que fará análises de solo de forma rápida, ecologicamente limpa e economicamente viável.
O equipamento é parte do portfólio da Agrorobótica, empresa que tem parceria com o ecossistema de inovação da Embrapa Instrumentação (SP) desde o nascimento do projeto. As análises, que não geram resíduos químicos danosos ao ambiente, são realizadas graças uma tecnologia que também foi utilizada no Rover Curiosity, um robô da NASA que foi enviado a Marte em busca de água. Com uso de um laser, o equipamento pode processar até 1.500 amostras por dia e fornecer dados relativos à quantidade de carbono orgânico no solo, textura (teores de areia, silte e argila) e pH. Isso representa um avanço considerável e um pioneirismo para a área no Brasil, já que a avaliação é feita em tempo real e não mais em dias como ocorre no caso dos métodos convencionais.
E um dos grandes diferenciais do sistema desenvolvido pela parceria é, de fato, a velocidade com que as análises podem ser convertidas em informações valiosas. A interação entre o hardware e o software utilizados permite que os resultados sejam prontamente digitalizados e transferidos para uma plataforma que opera em nuvem (cloud computing). Dessa forma, as recomendações agronômicas são obtidas quase que em tempo real, e podem ser encaminhadas para os produtores e franqueados detentores do equipamento. Em posse dessas recomendações, o produtor poderá mais precisamente ajustar a dosagem dos elementos que corrigirão o solo e, mais do que isso, entender se a correção é de fato necessária. Com isso, minimizam-se as chances de uso indevido de recursos e reduzem-se gastos desnecessários, além de contribuir para a prevenção de jazidas dos insumos não renováveis.
O alto custo dos métodos existentes chegava a ser impeditivo para muitos agricultores que deixavam de fazer suas análises e acabavam optando por aplicações sem a devida recomendação, o que significava perda de produtividade. A nova tecnologia, recentemente disponibilizada no mercado, permitirá a condução de análises a um custo reduzido devido à alta capacidade de processamento: 360 mil análises anuais – quase o dobro do número de análises realizadas por grandes laboratórios. Além disso, ela poderá contribuir com as propriedades rurais interessadas na certificação frente ao Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), do Governo Federal, uma vez que o mercado carece de uma ferramenta que permite a mensuração digital de carbono de forma limpa e rápida.
A Agrorobótica foi uma das sete selecionadas no programa Pontes para Inovação, iniciativa da Embrapa e Cedro Capital para acelerar parcerias na área de novas tecnologias agrícolas. O modelo adotado pela startup é um exemplo a ser seguido por quem quer inovar: identificação de um problema real e proposta viável de solução com uso de tecnologia de ponta. Mais um case proveniente dos desafios presentes no cenário da Agricultura Moderna.